Qualidade da água, melhor prevenir que remediar

 

Autor: Marcos Mataratzis

Tenho respondido muitos casos que não precisariam necessariamente de ajuda se tivessem tomado devidos cuidados com a qualidade da água que oferecem a seus peixes. Veio então a idéia de produzir este pequeno texto para tentar oferecer melhores condições de existência aos nossos amiguinhos.

Lembre-se: Água limpa = peixe saudável

Da mesma forma que vivemos envoltos pela atmosfera e dela retiramos o oxigênio, nossos peixes vivem na água e dela também retiram o oxigênio e nutrientes. Uma atmosfera poluída não só nos causa desconforto como uma série de problemas respiratórios, certo? A água é o meio de vida dos peixes e sua qualidade é fundamental para o sucesso em sua criação.

1 – A água do aquário e suas características:
A água que chega às nossas casas, provenientes das estações de tratamento não é uma água pronta para o uso em nossos aquários. Ela contém cloro, usado para matar microorganismos mas também letal para os peixes. Ele precisa ser removido antes de colocarmos água nova no aquário.
Para a remoção do cloro pode-se utilizar uma solução de Tiosulfato de Sódio (Na2S2O3).
Também existem diversas marcas de Condicionadores de água que além de remover o cloro também removem metais pesados e protegem as mucosas dos peixes.

pH:
O pH (potencial Hidrogeniônico) mede a relação entre a quantidade de íons H+ e OH- contidos na água. É uma escala logarítmica que varia de 0 a 14. De 0 a 6,9 dizemos que a água está ácida (concentração de H+ maior do que a de OH-). De 7,1 a 14 ela está básica ou alcalina (concentração de OH- maior do que a de H+). O valor 7 representa a neutralidade (iguais concentrações de H+ e de OH-).
A maioria dos peixes de aquário vivem, em seus habitats, em pH compreendido na faixa de 5,5 a 8,5.
Algumas espécies preferem águas ácidas. Outras preferem alcalinas. Outras preferem águas bem perto da neutralidade (vamos expandir o termo neutralidade aqui para o intervalo compreendido entre 6,8 e 7,2).

Dureza:
Dependendo das espécies que desejamos colocar em nossos aquários, a água precisa conter determinados sais nela dissolvidos. Tais sais na verdade são praticamente insolúveis em água mas representam papel importante na manutenção do pH (reserva alcalina).
Dizemos que uma água é dura quando esta contém sais contendo cátions como o Ca++ e Mg++ e ânions como o carbonato (CO3–) e o sulfato (SO4–) entre outros.
Existem várias escalas diferentes para se medir a dureza da água. A mais usada é a escala alemã conhecida como gH onde cada grau da escala representa 1mg/L (1PPM) na concentração destes sais. Normalmente a água é classificada como mole se a dureza ficar abaixo de 6°gH, moderada entre 6 e 10°gH e dura, acima de 10gH. A água considerada potável dificilmente terá uma dureza acima de 20°gH. Por esse motivo as companhias de abastecimento de água nos mandam a água com dureza bem pequena (ou inexistente). Dependendo dos habitantes de nosso aquário devemos elevar tal dureza com a adição dos referidos sais.

Teor de oxigênio:
O oxigênio é um gás. Gases se dissolvem na água em quantidades muito pequenas e sua concentração é inversamente proporcional à temperatura. Quanto mais quente for a água, menos oxigênio dissolvido ela conterá. A absorção do oxigênio atmosférico pela água se faz no filme que separa estes dois meios. Sendo assim, a agitação na superfície da água contribui para quebrar sua tensão superficial e permitir sua oxigenação. É importante salientar que não adianta ter um turbilhão de água no aquário se a temperatura for excessiva. Para se ter uma idéia, a 22°C a concentração máxima de oxigênio que pode estar dissolvida na água é de 8,7 mg/L. A 28°C tal concentração cai para 7,8 mg/L e assim por diante.
A maioria dos peixes dulcícolas sobrevivem com teores de oxigênio acima dos 4 mg/L mas existem certas espécies mais exigentes.

2 – Poluentes da água:
No aquário, as fezes e urina dos peixes, os restos de alimentos e plantas mortas acabam se transformando em compostos mais simples, alguns deles muito tóxicos como a amônia (NH3). A amônia é um gás bastante nocivo aos peixes, especialmente em pH alcalino. Em pH ácido, boa parte deste gás se transforma no cátion amônio (NH4+) segundo o equilíbrio:

NH3 + H+ <—> NH4+

O cátion amônio também é tóxico, porém menos que a forma NH3. Nossos aquários, com o tempo, desenvolvem bactérias benéficas do gênero nitrosomonas que oxidam o NH3 a nitrito (NO2-). Os nitritos também são muito nocivos aos peixes. Outras bactérias benéficas, as nitrobacter oxidam os nitritos transformando-os em nitratos (NO3-). Estes últimos são bem menos tóxicos e são consumidos pelas plantas.

É importante que o aquarista monitore periodicamente os níveis de amônia e nitrito de seu aquário. Viver em águas com elevados teores dessas substâncias, mesmo por poucos dias pode ser fatal para a maioria dos peixes!

3 – O papel da filtragem:
A filtragem ocorre em 3 estágios:

Filtragem Mecânica: permite a remoção de material particulado sólido como restos de comida não consumida, poeira em suspensão, galhos e folhas de plantas mortas, etc. Utiliza-se uma fibra sintética com trama bem pequena como no Perlon para reter tais partículas.

Filtragem Química: através do uso de materiais adsorventes, compostos orgânicos provenientes da decomposição de alimentos ou eliminados por plantas e troncos. O material mais consagrado na filtragem química é o Carvão Ativo.

Filtragem Biológica: consiste de um material poroso onde as bactérias benéficas encontrarão um local apropriado para sua fixação. É importante que o local receba fluxo de água constante para que tanto a amônia e nitritos quanto o oxigênio passem constantemente. Dessa forma, elas levarão tais poluentes a se transformar em nitratos.

A eficiência da filtragem de um aquário é fator crucial para a pureza e cristalinidade de sua água. Não pretendo me alongar nos tipos de filtros e marcas mas tenha em mente que a vazão de água que passa através do sistema de filtragem deve ser, para a maioria dos aquários, de 5 a 10 vezes o volume total do aquário, por hora. Exemplificando: se seu aquário possui 200 litros de água, uma filtragem eficiente para tal aquário deverá ter uma vazão de pelo menos 1000 L/h.
Evidentemente, tal vazão também dependerá da população escolhida para o aquário. Em aquários pequenos, com peixes pequenos, uma vazão de 2 a 3 vezes o volume do aquário já é aceitável. Por outro lado, aquários com peixes grandes, via de regra, necessitam de filtragens de pelo menos 7 vezes o volume do aquário.

A limpeza dos filtros e troca dos materiais filtrantes também precisam ocorrer com uma certa periodicidade. O Carvão ativo, por exemplo, deve ser substituído mensal ou quinzenalmente. O Perlon, sempre que estiver saturado de material particulado. Sua mídia biológica dificilmente necessitará de lavagens ou reposições. Entretanto, se for lavar tal mídia, use a própria água contida no filtro.

Vale lembrar que plantas auxiliam no bem estar geral do aquário, consumindo nitratos e fosfatos e ajudando a tornar a água mais cristalina.

4 – Sifonagens e Trocas Parciais da Água:
Por mais cuidadosos que sejamos, por mais eficiente que seja o nosso sistema de filtragem, sempre sobram restos de comida ou dejetos que não são sugados pelo filtro e com o tempo vão se acumulando no chão do aquário. Isto acaba se transformando em poluentes. Por esse motivo, devemos sifonar o fundo de nossos aquários para remover tais sujeiras com uma freqüência máxima mensal. Preferencialmente quinzenal ou até semanal, conforme a população e quantidade de alimento oferecido.
Trocas Parciais de Água (TPAs) também devem ser feitas quinzenal ou semanalmente para remover excessos de poluentes solúveis e para repor certos minerais (aqui chamados elementos-traço) consumidos por plantas e peixes. Não existe uma quantidade exata de água a ser reposta mas aceita-se como usual TPAs mensais de 20 a 30%, quinzenais de 15 a 20% ou semanais de 10 a 15%. Não tome esses números como fixos e sim como base. Tais valores podem variar por conta da filtragem, quantidade de alimento oferecido ou mesmo da população do aquário.

5 – Considerações finais:
Não tive a pretensão de esgotar o assunto. Pelo contrário! Tive a intenção de dar uma visão superficial dos cuidados mínimos que o aquarista deve tomar para ter peixes saudáveis. A maioria das doenças pisciárias ocorrem quando as defesas do peixe estão baixas. Tomando os cuidados acima estamos contribuindo para manter nossos peixes saudáveis e livre delas.

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4 Comentário

  1. Informação preciosa qu demorei muito tempo pra adquirir até encontrar vídeos uteis no youtube e esse site incrível. Obrigada!

     
  2. Tenho um aquário de 80lts,porém costuma criar uma pequena quantidade de lodo mas paredes do aquário como tbm nós adereços do aquário, como prevenir tal situação?

     

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