* Matéria cedida gentilmente por Jorge Marcelo Fernandez do canal Wild Fish Aquarium
Tradução por Edson Rechi
Sempre tivemos a ideia de visitar esta pequena cidade colombiana comparável a Barcelos no Brasil ou Iquitos no Peru. Inírida, de apenas cerca de 28 mil habitantes, possui vários criadores de peixes ornamentais, aqui encontraríamos um mundo de gente muito simpática e de amigos que nunca iremos esquecer.
Ao sair da Venezuela e embarcar em uma balsa, que levaria uma hora para chegar a Puerto Inirida, lembramos que na Amazônia os prazos estipulados não são reais, mas acostumados a isso e só tínhamos que relaxar e curtir a viagem. Com a gente viajaram empresários, famílias inteiras, vários sacos de peixes ornamentais contrabandeados do lado venezuelano, certamente destinados aos pescadores, e até um menino de 3 anos que foi deixado pelo pai no barco para que sua mãe o busque no destino, coisa que no mundo das cidades grandes já está extinto.
Completado o tramite burocrático para entrar na Colômbia e depois de duas horas estávamos hospedados no Hotel Puerto Inírida, onde nosso amigo Wolverine estaria nos recebendo da melhor maneira e disposto a nos ajudar no que precisássemos.
Uma hora depois estávamos em um dos principais coletores de peixes ornamentais “Los Pozos”. No local Jason nos mostrou todas as instalações, contando desde quando os peixes são capturados até o momento em que são embalados e despachados para Bogotá onde estão esperando conexões para a Europa ou os EUA e até mesmo para distribuidores bem maiores na capital da Colômbia.
Junto com Jason percorremos as piscinas com uma contribuição constante de um pequeno cano (tributário) que foi desviado de seu canal principal para fluir entre os chamados poços, onde existem grandes tetras Cardinais ou H. severum, por exemplo, bem como Oscars (Astronotus sp) ou Arraias motoros (Potamotrygon motoro).
Como imagens valem mais que mil palavras, segue fotos do local.
Depois de apreciar por várias horas este paraíso de peixes ornamentais e aprender mais sobre esse mundo dos estocadores, decidimos descansar um pouco e preparar uma completa pescaria, ou seja, entrar na selva para ver os pescadores de peixes ornamentais ao lado e saber mais sobre eles e os peixes em seu biótopo, algo que SEMPRE sai de seu ensino.
Pesca na Colômbia:
Assim que conhecemos o Jason sabíamos que nos daríamos bem, ele nos contatou com um pescador com bastante experiência, que também nos deu um lindo Voladora (é como chamam os barcos de alumínio) com motor de 80 cv que o irmão do Jason tinha.
Enchemos o tanque de gasolina e mais por via das dúvidas e começamos a viagem saindo às 15h00 do dia 10 de novembro, embora o horário combinado fosse às 13h00.
O bom é que chegaríamos apenas na hora em que realmente começaria a coleta de várias das espécies que vamos ver.
Passando por por Guaviaré de águas límpidas e o Rio Inírida de águas negras, onde se pode constatar por vários quilômetros que as águas demoram a se misturar por completo, chegamos à comunidade Curipaco de “Guayabal” localizada na N 04 ° 16´ 22,4 ”W067 ° 49´05,1” às 17h00. No canal do Anapo, afluente do Orinoco e águas muito negras, com uma bela paisagem e totalmente coberto pela densa selva, um canal (rio) muito escuro onde as águas negras se misturam com o verde da selva gerando uma paisagem digna de filme.
Quando chegamos na comunidade descobrimos que era a hora dos banhos, por isso todos os rapazes se banhavam no litoral, então seria a vez das mulheres e por último dos anciãos da aldeia, coisa que nossa guia nos explicaria e o experiente pescador Mauricio, também membro da comunidade.
Na Comunidade Guayabal eles nos receberam da melhor maneira, com a predisposição que essas pessoas carregam no sangue tentando nos ajudar no que for preciso e nos contando sobre seus costumes.
Aí veio falar-nos o Capitão da comunidade, um homem idoso que é respeitado e consultado por todos, é também a voz de comando da Comunidade.
Depois de nos perguntar o que gostaríamos, ele nos deu permissão para que pudéssemos pescar em seu rio, que eles cuidam de uma forma muito especial.
Aproximadamente às 22h00 faríamos o trecho final subindo o Anapo em uma canoa de madeira feita com um único pedaço de árvore, até a mata inundada para pescar P. altum, cardinais, vários ciclídeos entre muitos outros.
A primeira coisa que nos surpreendeu é a forma como pescam para se alimentar do Curipaco deste lado, ou seja, do lado colombiano, o que certamente em outros lugares também deveria fazer e é pescando com óculos de Snorkel, só usam a máscara que eles chamam de “Máscara” e com um arpão ou lança manual com um tridente ou ponta simples, eles pescam debaixo d’água com uma lanterna quando o peixe está completamente adormecido.
Já tínhamos visto em outras partes da Amazônia como pescadores de peixes ornamentais pescam os discus (as três espécies) à noite com lanternas, técnica que já é expandida por todos os pescadores de peixes ornamentais da Amazônia e é usada em outras partes do mundo.
Pescando Pterophyllum altum de maneira muito especial:
Já vi muito sobre peixes amazônicos e técnicas de pesca noturna que são mais lucrativas para os pescadores nas áreas amazônicas, também as praticamos e já pescamos vários ciclídeos, Discus em outras ocasiões, Bandeiras, entre estes altum e outros, mas o que eu vou descrever a seguir é algo que eu nunca tinha visto ou imaginado e que retrata com precisão o transe em que se encontra um peixe, mais precisamente um Ciclídeo, quando está dormindo.
Já havíamos pescado vários peixes, Mesonauta insignis, P. altum, bagres, loricarídeos etc. com a técnica da lanterna frontal e uma rede que neste caso e ao contrário das regiões do Brasil, esta é maior e se chama NAPA. Esta técnica, que consiste em identificar o peixe adormecido entre os ramos de arbustos ou árvores que caíram na água ou mesmo da vegetação submersa da floresta, aproximando-se aos poucos, colocando lentamente a rede por trás e fazendo os peixes entrarem sem que percebam o que está acontecendo. Em seguida, a rede é retirada com o peixe dentro e ela nem luta o quanto está sonolento, mostrando-o pela pupila totalmente dilatada.
O Mauricio, como um grande pescador que é, nos mostrou uma técnica ainda mais tradicional e que conseguiu fazer uma noite quando perdeu a rede no caminho para a área de pesca. Ficamos muito surpresos e também percebemos como esses ciclídeos ficam quando dormem, um impressionante estado de vulnerabilidade e por isso procuram áreas de proteção com camuflagem e difícil acesso para o predador.
E aqui eu descrevo a técnica que felizmente gravamos em vídeo e está no www.wildfishaquarium.com.ar ou no canal do youtube wildfishaquarium: Mauricio avistou um belo bandeira Altum entre a vegetação que ficava entre vários galhos a cerca de 50 cm de profundidade, já que eles tendem estar tão próximos da superfície porque procuram a temperatura mais quente da água.
Ele colocou sua raquete sob o peixe e aos poucos e muito lentamente foi levando para a superfície onde o peixe se inclinou sobre a parte plana da raquete até que ele estava completamente deitado no remo e lá ele apenas lentamente trouxe para a superfície trazendo-o em direção à nossa canoa e depositando-o no saco de peixes e logo ali o peixe acordava meio adormecido.
Foi “apanhado” um Pterophyllum altum adulto com um remo de canoa !!!!! Foi incrível e todos nós não podíamos acreditar que começamos a festejar no meio da selva às 3 da manhã! Algo nunca visto e a subida NUNCA descobriu que estava saindo da água, é incrível o transe dos ciclídeos quando dormem.
Também pudemos filmar M. insignis dormindo embaixo d’água, lá eles vão perceber o quão vulnerável o peixe está naquele momento.
Biótopo Caño Anapo
Água Preta.
PH: 3,70
Temp: 28,5°C
Neste biótopo pudemos ver como com um remo um pescador tirou da água um altum adulto escalando lentamente e sem danificá-lo, também observamos grandes enguias e algo muito particular que nos chamou a atenção, este rio nasce na selva e desagua no Orinoco com águas não tão ácidas como esta e com águas semi-cinzentas (devido à sua mistura com rios de águas límpidas), por isso, à medida que subíamos o canal do Anapo, menos jacarés foram vistos até certo ponto não havia mais nenhum.
Tínhamos visto isso no Atabapo, na Venezuela, que não tem jacarés por causa de suas águas ácidas, embora não saiba se será por isso, mas nos surpreendeu (nas águas claras dos rios por aí). Em questão de poucas centenas de metros eles se foram e os indígenas nos disseram que era por causa da água.
Alguns peixes capturados neste belo biótopo, muitos deles são usados para alimentação das comunidades e que qualquer fã de peixes ornamentais iria querer, neste caso alguns foram capturados com um arpão e servidos como alimento.
Apresento aqui o Mauricio que pescava com remo em vez da rede e que nos deixou muitas lições.
Conclusão
Em conclusão, podemos dizer mais uma vez e nunca nos cansar de afirmar que a cada viagem aos diferentes biótopos de peixes ornamentais aprendemos coisas novas. Neste caso as adaptações dos indígenas para poderem pescar, nunca teria imaginado que com um pedaço de madeira achatado, neste caso um remo, se pudesse pescar um Pterophyllum altum adulto.
Também ficamos surpresos como os nativos usam a máscara de mergulho do mundo moderno para a pesca. Vê-se que as técnicas nem sempre são as antigas e que evoluíram, hoje lanternas e máscaras de snorkel são utilizadas nesta região tanto para a pesca ornamental quanto para consumo.
Principalmente fico com a cor dos peixes das águas ácidas já que as mesmas espécies no Orinoco ou Guaviare não têm essas cores intensas dos pequenos afluentes de água negra, a verdade é que são exemplares impressionantes se você não ver aquele Crenicichla ou que Satanoperca são incríveis.
Espero que tenham gostado desta aventura em terras que em tempos das FARC não podíamos visitar por serem consideradas de grande perigo para os estrangeiros, hoje esses tempos ficaram para trás e esperamos poder desfrutar da bela quantidade de peixes ornamentais que esta região nos proporciona. .
Jorge Marcelo Fernandez
Agradecimentos
À minha família por aguentar esse maluco, ao Alfredo companheiro incondicional na pesca e na vida, ao Perico por me ajudar com meu trabalho e ao Heiko Bleher por sua ajuda intelectual.
Bibliografia
Livro do disco 1, Aquapress Heiko Bleher
Livro do disco 2, Aquapress Heiko Bleher
Publicado em Agosto de 2021
Que material excepcional!! Parabéns e muito obrigado por contribuir conosco!!
🙂
oi eu sei que não tem aver com o artigo edson mas eu estou pensando em montar um aquário de 40 litros com 2 colisas 3 corydoras ou otos limpa vidros e queria saber quantos neons poderia colocar junto os parametros estão em 6.4 de ph 26 graus e amonia zero e tenho um hang on 240
Tente apenas uma colisa decido o pouco espaço. Uma meia dúzia de neons ficaria bom.
Sem palavras pela experiência de leitura! Tópico “fora do comum”.. parabens! Pra quem nao pode ou nunca vai poder conhecer um lugar desse.. foi uma viagem.