Asterophysus batrachus – Gulper catfish

 

Autor: Renato Moterani

gulper

Imagina um daqueles monstros que criamos quando somos crianças, uma criatura terrível que devora suas vítimas e deixa apenas os ossos.

Pois elas existem e, algumas vivem em nosso país, quero lhes apresentar o Asterophysus batrachus, chamado de Gulper Catfish pelos gringos, aqui não temos um nome para ele, eu li um artigo científico sobre esse peixe onde o chamavam de Bagre Bicho Papão, acho um nome bem apropriado para esse peixe.

Bom, o gulper é um peixe brasileiro, mas que também vive em outros países da região amazônica, muito valorizado lá fora, e finalmente presentes agora em nossos aquários, devido a recente importação dos primeiros lotes.

Eles não são coloridos e nem atingem grande tamanho, cerca de 30cm, o que chama a atenção nesse peixe e o faz ser tão adorado como pet é exatamente o tema dessa publicação científica que li, seus hábitos alimentares, ele se especializou em predar peixes de grande porte, as vezes maiores que ele.

Curiosamente, os gulpers pertencem a mesma família das Tatias, pequenos bagres pacíficos que vivem espalhados pela américa do sul, mas, como um peixe primo das pacíficas tatias chegou a isso?

Vamos analisar o ambiente onde esse peixe vive, os rios da América do Sul, talvez o lugar com maior índice de predadores de água doce do mundo. Neste ambiente, os pequenos precisam viver em águas mais rasas para terem proteção, só que ai se acumula uma enorme variedade e quantidade de peixes de tamanho parecido, que competem pelo alimento disponível por ali.

Seus primos mais próximos vivem neste mesmo ambiente, disputando com todos os demais peixes os invertebrados e raramente pequenos peixes que dão bobeira e terminam devorados.

Mas como conseguir mais alimento nesse ambiente? Alguns bagres, como o mandubé ou palmito, aprimoraram sua velocidade e abandonaram a forma tradicional de caça no fundo, tornando-se peixes de meia água e nado ativo. Só que isso consome muita energia e obriga o peixe a caçar em águas abertas, onde também será caçado.

Outra saída é aumentar o tamanho das presas que podem ser devoradas, assim como fez seu primo, o demônio negro (Trachycorystes trachycorystes), esse peixe possui uma boca enorme, capaz de devorar peixes quase de seu tamanho, mas é muito lento e depende da sorte e de emboscadas rápidas para conseguir alimento.

O que o gulper fez foi algo nesse sentido, modificações fisiológicas que possibilitaram ao peixe ingerir presas enormes, foram elas:

A primeira é obvia, a boca aumento muito em raio e ângulo de abertura.

Os dentes foram projetados para dentro, assim qualquer movimento da presa só irá joga-la mais ainda para o fundo de sua boca.

As placas de dentes do palato foram deslocados para frente, facilitando para o gulper engolir sua presa mais rapidamente.

Um estômago extremamente elástico, capaz de receber volumes enormes de alimento.

Sucos digestivos potentes para digerir volumes maciços de carne.

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Ok, adaptações feitas para a ingestão de presas grandes. Mas, mesmo com tudo isso ainda restam dois problemas, como caçar essas presas e o que fazer com as partes não digeríveis ou de difícil digestão, como escamas e ossos mais duros por exemplo?

No caso da digestão, o problema foi resolvido de forma simples. O gulper regurgita os restos não digeridos de suas presas. É comum ver o peixe todo inchado as vezes, mesmo não tendo comido nada. Isso é a forma que ele usa para “limpar” seu estômago, ele engole água e depois a coloca pra fora, junto com eventuais restos de alimentações anteriores.

Sua forma de caçar é das mais engenhosas e eficazes, ele fica nadando no meio do cardume de peixes de que se alimenta, por ser de tamanho próximo ao de suas presas, não é visto como predador por elas, assim ele pode se aproximar, com um nado estranho, ao estar numa posição boa, que é a frente do peixe ou ao lado dele, ele se vira rapidamente e abocanha a presa.

É muito interessante de ver que o peixe a ser devorado leva alguns segundos para entender o que está acontecendo, parece que não acredita que está sendo devorado por outro peixe de seu próprio tamanho…

Em aquário podemos ver esse comportamento curiosíssimo, alias, falando em aquário, para quem pensa em ter um monstrinho desses vai precisa de um aquário com 100 a 200 litros aproximadamente, apesar de não atingir grande tamanho, produzem muita amônia e exigem uma filtragem potente.

Ficam ótimos em aquários com plantas e vivem muito bem em cardume, de alguma forma eles se reconhecem e nunca ouvi falar de um caso de canibalismo entre essa espécie, mais um fato curioso sobre essa espécie, impensável esse comportamento por se tratar de espécie tão voraz. Mas já com outros peixes não há essa passividade, eles podem sim ser mantidos em aquários comunitários, desde que com peixes com pelo menos o dobro de seu tamanho e que não sejam de corpo muito fino.

Não há relatos de reprodução em cativeiro, apesar de eu já ter lido sobre dimorfismo sexual para a espécie.

Vivem bem em pH ácido, de 6 a 7, de início comem mais facilmente alimento vivo, com o tempo aceitam alimento morto. O meu hoje come na mão, costumo dar camarão e manjuba.

Se tornam tão sem vergonha que facilmente pegam o alimento da mão do dono, em aquários maiores, caso prefira, o gulper pode ser retirado, colocado em um recipiente menor para que se alimente e depois devolvido ao aquário, sem nenhum sinal de estresse por parte do peixe (eu faço isso com o meu…)

Enfim pessoal, querem um petfish dos mais exóticos e interessantes do mundo? Está ai, o gulper catfish, um peixe que não tem a beleza das cores, mas com certeza ira surpreender a todos por seu curioso comportamento… E por falar em Pet Fish, o próximo artigo meu será esse, Pet Fish, saiba o que é e como criar…

 

Sobre Renato Moterani 16 Artigos
Natural de São Paulo-SP, é aquarista desde 1986, na época foi a uma avicultura (não existia o termo Pet Shop..rs) e comprou um peixe chamado Oscar, colocou esse peixe junto dos neons e espada de seu irmão mais velho, duas semanas depois ganhou esse aquário do irmão, após todos os peixes serem devorados. É técnico contábil, Servidor Público estadual, trabalhando atualmente no Instituto Butantan, com produção e pesquisa sobre venenos de serpentes. Sempre mantendo peixes jumbo, se especializou na área e desde 2014 mantém o grupo Peixe Grande Aquarismo e a página de mesmo nome. Atualmente possui 4 aquários montados, o maior com 2.200 litros e o menor com 100.

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