Começando no aquarismo

 

Por Solange Nalenvajko – Fevereiro/2019

Começando no aquarismo? Seja bem-vindo!

Mário Quintana tem uma frase da qual gosto muito: “Para os peixinhos do aquário, quem troca a água é Deus”. E basicamente é o que somos para nossos peixes, deuses. Mantemos seu ambiente estável e salubre, os alimentamos, suprimos suas necessidades.  Viverão bem ou mal conforme as condições que oferecermos a eles.

Atualmente os peixes já estão em terceiro lugar na escolha de animais de estimação, perdendo apenas para cães e gatos. Também são os animais que mais nos transmitem a sensação de calma e serenidade sendo que o simples ato de parar e observar um aquário diminui a ansiedade, o estresse, reduz a pressão arterial e tensão muscular. Também estão entre os animais usados em Terapia Assistida por Animais (zooterapia ou pet terapia), atuando como coadjuvantes em atividades assistidas com crianças hiperativas, autistas e portadoras da Síndrome de Aspenger.

Por essas e outras é que o aquarismo hoje é um hobby fortemente ligado ao estudo e pesquisa. Quanto a nós que apenas mantemos aquários domésticos, o aquarismo torna-se fonte tanto de momentos de tranquilidade e relaxamento como de conhecimento. Aliás, quanto mais conhecemos nossos peixes melhor podemos atender suas necessidades, mais saudáveis eles serão e menos problemas e gastos inúteis ou desnecessários nós teremos.

Sejam bem-vindo a este maravilhoso mundo das águas.

Antes do aquário

O local

Certo, você decidiu ter um aquário. A pergunta relevante é: onde montá-lo? Um aquário de 15 litros para um peixe betta (Betta splendens) é fácil trocar de lugar, mas se escolheu começar com um de 80, 100 litros, a coisa já fica complicada.

Antes da montagem, visualize o aquário no local escolhido e analise: é um local tranquilo ou de circulação de pessoas? Elas precisam se desviar do aquário quando passam por ele? Há incidência de luz solar (que contribui em alguma medida no surgimento de algas e em caso de aquários de pequeno volume, alteração relevante de temperatura)? O piso está  nivelado, o móvel fica bem assentado sobre ele? Há espaço suficiente para se movimentar quando fizer manutenção ou precisar retirar/instalar um equipamento? Fica próximo ao local onde descartará a água da troca parcial e pegará água nova para repor? Há tomadas próximas? Tem fácil acesso visual ao aquário ou o colocou em um local pouco usado da casa? E uma poltrona ou sofá onde possa se sentar confortavelmente apenas para olhar seus peixes?

Não parece, mas a escolha de um bom local pode facilitar muito sua vida.

O móvel

Que todos gostam do que é bonito é inegável, mas a principal preocupação deve ser se ele suporta com segurança o peso do aquário montado. Voltando ao exemplo anterior, um aquário de 100 litros pode pesar tranquilamente 150 kg somando-se o peso do vidro, água, substrato, ornamentos como troncos e rochas, além de equipamentos.

O aquário

Além da disponibilidade financeira e de espaço, basicamente o que define o tamanho do aquário é a fauna que deseja manter. Para quem está começando, talvez a maneira mais fácil para planejar uma boa montagem seja perguntando a si mesmo quais peixes quer ter. Por exemplo, um aquário para kinguios (Carassius auratus) terá uma montagem diferente de um aquário cujo foco seja tetras foguinho (Hyphessobrycon amandae) e as diferenças mais evidentes serão com relação ao tamanho do aquário e a escolha do filtro mais adequado. Assim, para montar um bom aquário sem desperdício de dinheiro ou frustrações futuras é importante conhecer os peixes que deseja manter.

Poxa, mas eu já comprei um aquário de 30 litros, e agora?

Agora é importante saber que há vários peixes que não podem viver aí a exemplo de disco, bandeira, kinguio, oscar, botia, entre tantos outros, já que são peixes de maior porte ou territorialistas ou necessitam de grupo, enfim, inadequados para aquários de pequeno volume.  A melhor opção será por peixes de pequeno porte e sem excesso de indivíduos.

Existe um tamanho certo para começar?

Não. Apenas lembre que aquários muito pequenos restringem bastante a escolha da fauna e o número de peixes que podem viver com conforto no espaço disponível, além de serem mais difíceis de manter em relação à estabilidade física, química e biológica. Pense em no mínimo 30 litros. Algo entre 50 e 70 litros será melhor ainda, pois permite uma fauna maior e mais diversificada.

Medidas e volume

As medidas do aquário são dadas em centímetros e sempre nesta ordem: comprimento, largura e altura. O volume em litros é calculado através da seguinte fórmula:

(comprimento x largura x altura) / 1000

Por exemplo, um aquário com 50 cm de comprimento, 30 cm de largura e 35 cm de altura possui um volume de 52,5 litros.

Volume bruto ou nominal: é o volume total de água que o aquário comporta estando vazio (sem substrato, rochas, troncos, enfeites, equipamentos). Usando o exemplo anterior, o volume bruto é de 52,5 litros.

Volume real ou efetivo ou líquido: é o volume de água que o aquário realmente comporta depois de colocados substrato, rochas, troncos, etc. Para ter uma ideia aproximada deste valor, costuma-se subtrair 15% do volume bruto. Voltando ao exemplo anterior:

52,5 litros x 15% = 7,8 litros

52,5 litros – 7,8 litros = 44,7 litros (volume real)

Lembre sempre que este é um cálculo aproximado.

Low tech x High tech

Estas são duas expressões que ouvirá/lerá muito quando se tratar de aquários plantados, então é importante que conheça o significado.

De maneira bastante simples, o aquário de baixa manutenção (ou low tech) é aquele que dispensa equipamentos sofisticados e um esquema forte de fertilização. É uma montagem que pode abrir mão de substrato fértil, iluminação potente e injeção de gás carbônico, além de necessitar de menores quantidades de fertilizantes. Já o aquário de alta manutenção (ou hight tech) exige um maior investimento em equipamentos (basicamente iluminação e injeção de gás carbônico) além do investimento em testes químicos, substrato fértil e um forte esquema de fertilização.

O que determina se um aquário é de baixa ou alta manutenção  (low ou high tech) não são os peixes mas sim as plantas, e o desenvolvimento delas se assenta sobre um tripé: oferta da gás carbônico, fertilização (via substrato fértil e líquida) e iluminação. Há plantas que necessitam de maior aporte de recursos que outras, pesquise.  Da mesma forma que acontece com a fauna, é preciso também escolher a flora com maior possibilidade de crescimento saudável conforme o que oferecemos em nosso aquário.

Mais uma coisa: procure saber o tamanho que as plantas que escolheu atingem. Enquanto algumas não passam de 10 cm outras podem chegar a 50 cm. Para aquários grandes isto não representa nenhum problema, mas para aquários de pequeno porte já é outra história.

Para quem está iniciando no aquarismo, aquários de baixa manutenção são uma ótima porta de entrada. Há facilidade em encontrar plantas nas lojas e várias a preços bastante acessíveis. A manutenção é simples e ocupa pouco tempo, inclusive pela necessidade reduzida de podas. O gasto de energia elétrica também é menor pelo fato de tais plantas não necessitarem de iluminação potente.

Sabe aqueles aquários absurdamente lindos que participam de concursos de aquapaisagismo? Eles são os melhores exemplos de aquários de alta manutenção. Além de maior investimento exigem também maior conhecimento, dedicação e cuidados. Normalmente são montagens feitas por aquaristas já com algum tempo de experiência.

Equipamentos básicos

O filtro

Considere o filtro o equipamento mais importante do aquário. Ele será o responsável pela manutenção da boa qualidade da água, então a regra de ouro é gaste bem para gastar uma vez só. Não são raros os casos em que iniciantes costumam poupar na hora da compra, o que significa comprar um equipamento  inadequado que não atenderá a necessidade do aquário e precisará ser substituído em pouco tempo. Insisto: gaste bem para gastar uma vez só.

Filtro externo do tipo Hang On, bastante utilizado em aquários de pequeno e médio porte

Há várias marcas e modelos de filtro disponíveis e basicamente o que define o filtro mais adequado para seu aquário é o volume do aquário e a fauna que possui.

  • Volume do aquário. Quando compramos um filtro, em suas especificações encontramos o item vazão, que significa quantos litros o filtro é capaz de circular em uma hora. Normalmente uma vazão entre cinco e dez vezes o volume do aquário por hora é o suficiente para manter a qualidade da água.  Por exemplo, se o aquário possui 50 litros, um filtro com vazão entre 250 litros/hora e 500 litros/hora será adequado.
  • Peixes de pequeno porte não representam maior problema quando o assunto é filtro, mas os de médio porte e principalmente os de grande porte pedem uma consideração especial na escolha deste equipamento já que produzem uma carga orgânica grande tanto de fezes como de amônia.

Há filtros internos e externos. Os internos ocupam espaço dentro do aquário, nem sempre vêm acompanhados da bomba submersa (que é comprada à parte) e a manutenção é um pouco mais “chata” para fazer. Exceção feita ao Filtro de Bactérias (Filtro Biológico Modular), os demais são bastante limitados e mais usados em aquários temporários como os de alevinos.

Filtros externos são os que ficam fora do aquário e os mais utilizados são o hang on, canister e sump. Hang on são aqueles que ficam pendurados no vidro traseiro do aquário. Possuem um preço razoável e são uma boa escolha para aquários de até 100 litros e fauna composta por peixes de pequeno porte. Para aquários acima deste volume o canister passa a ser a opção mais eficiente de filtragem e também o sump, principalmente para aquários de maior volume (considere a partir de 300 litros) e peixes de grande porte.

O que mais devo levar em conta quando comprar o filtro?

  • Verifique o consumo de energia. Filtros equivalentes de diferentes marcas possuem consumos diferentes e isto reflete na fatura de energia elétrica. Um exemplo? O canister Atman AT 3337, vazão de 1000 l/h, tem um consumo de 30W; o JBL Crystalprofi Green Line 901e, vazão de 900l/h, tem um consumo de 15W; um canister Jebo 835, vazão de 1000 l/h, tem um consumo de 22W.
  • Verifique a disponibilidade de peças de reposição. Como qualquer outro equipamento, filtros também correm o risco de estragar com o uso e necessitar de substituição de peças. Pergunte ao lojista sobre a disponibilidade de peças.

E alguns lembretes importantes.

  • Um filtro, por melhor que seja, não elimina a necessidade de manutenção do aquário com trocas parciais de água e sifonagem do substrato.
  • Filtros também precisam ser limpos e a periodicidade desta manutenção é basicamente determinada pelos peixes que você tem. Um sinal de que está na hora de fazer isto é quando a vazão do filtro começa a diminuir.
  • Filtros devem permanecer ligados 24 horas por dia, 7 dias por semana, 4 semanas por mês, 12 meses por ano. A única ocasião em que ele deve ser desligado é quando estiver fazendo a manutenção do aquário.
  • A princípio não existe filtro ruim, apenas filtro que não atende a necessidade de seu aquário. Considere como um filtro realmente ruim aquele feito com materiais de baixa qualidade, que apresentam índice de ruído elevado, que vazam repetidamente.

Mídias filtrantes

Mídias filtrantes são aqueles materiais que estão dentro do filtro e são responsáveis pela filtragem física, química e biológica da água do aquário. Assim como o filtro é o equipamento mais importante, a filtragem biológica é também a mais importante para o aquário e já veremos o porquê.

As mais utilizadas são as seguintes:

Mídias para filtragem física: Também chamada de filtragem mecânica, tem a função de reter partículas sólidas (restos de ração, pedaços de folhas mortas, fezes) que ficam em suspenção na água. Os materiais mais usados para isto são o perlon – também conhecido como manta acrílica – e espumas próprias para aquário. Espumas são enxaguadas e reutilizadas; o perlon pode ser descartado ou lavado e reutilizado, conforme o grau de saturação entre uma manutenção e outra. Fica basicamente a critério do aquarista.

Mídias para filtragem química: Sua função é eliminar compostos químicos nocivos presentes na água que não podem ser eliminados pela filtragem mecânica, já que são moléculas. As mídias químicas possuem capacidade de adsorção física, ou seja, atração e retenção das moléculas em seus microporos, retendo substâncias que causam cor e odor na água além de gases existentes. As mídias químicas mais usadas em aquário são o carvão ativado e as resinas sintéticas como Purigen e similares.

Há resinas sintéticas que adsorvem outras substâncias (como silicatos e fosfatos)  existentes na água. São recursos válidos para uso em casos específicos e pontuais, mas que não devem ser vistos como de uso continuado.

É importante salientar que a filtragem química deve ser olhada como uma opção do aquarista e não uma obrigação. Aquários com grande densidade de plantas costumam dispensar a filtragem química; já para aquários com poucas ou nenhuma planta esta filtragem torna-se bastante interessante.

Mídias para filtragem biológica: É a mais importante das três filtragens, pois é ela que promove a boa qualidade da água transformando a amônia em nitrito e este em nitrato. Isto é feito pelas bactérias nitrificantes que se encontram majoritariamente instaladas nas mídias biológicas. Trocando em miúdos, mídia biológica é qualquer material que esteja dentro do filtro e que servirá como a “casa” das bactérias.

Mas qualquer material serve? Até saco de cebola serve, MAS, quanto melhor for o material mais espaço existe para fixação das colônias. Costumamos chamar as mídias mais usadas de “cerâmicas”, sendo que nem todas são de fato cerâmicas. O material mais eficiente para a confecção destas mídias, seja na forma de pastilhas ou cilindros, é o vidro sinterizado que, devido a sua alta porosidade, oferece grande área para fixação de bactérias.

Para filtros de pequenas dimensões (caso dos hang on), prefira mídias biológicas de tamanho mini.

Aquecedor com termostato

É o equipamento que permite manter a temperatura da água estável, evitando que a mesma fique abaixo daquela determinada pela regulagem feita.

Normalmente indica-se que a potência seja de 1W/l, mas se a região em que mora o frio é mais rigoroso ou há grande variação térmica no dia ou entre um dia e outro, é mais seguro optar por uma conta de 2W/l.

Para instalação deste equipamento, siga as recomendações do fabricante. Prefira mantê-lo em posição vertical e com o cabeçote de regulagem acima do nível d’água. Coloque-o em local com boa circulação de água para que o aquecimento seja mais eficaz. Não se esqueça de comprar um termômetro para conferir a temperatura.

Importante!  Nunca retire o aquecedor da água quando o mesmo estiver ligado, ele queimará. Caso precise retira-lo do aquário por algum motivo, desligue a tomada e, caso ele estivesse em funcionamento, espere alguns minutos até que resfrie.

Iluminação.

Iluminação em LED, bastante utilizado atualmente devido sua eficiência e baixo consumo

A iluminação tem basicamente duas funções: promover o crescimento das plantas e dar aos peixes a noção de dia e noite (atividade e repouso). O número de horas que as lâmpadas permanecem ligadas chama-se fotoperíodo e a recomendação usual é que ele seja de oito a dez horas por dia. Usar um timmer facilita bastante o controle do período de funcionamento da iluminação.

Em geral, as lâmpadas utilizadas para iluminação de aquários são as fluorescentes (tubulares e compactas) e leds. Destas, existem as de uso comum (as que temos em nossas casas, por exemplo) e as específicas para aquários.

O que define a melhor iluminação para seu aquário são as plantas. Enquanto algumas se desenvolvem de forma saudável (embora lenta) na presença de luminosidade fraca ou média, outras necessitarão de iluminação potente para isto.

Anteriormente tínhamos uma referência para definir a quantidade de luz necessária e que era dada pela relação Watt/litro. Considerava-se uma iluminação fraca aquela com até 0,5W/l, média entre 0,6 a 1,0 W/l e alta acima de 1,0 W/l. Com o tempo este referencial caiu em desuso e hoje deixamos de considerar a potência da lâmpada (Watt) para considerar o fluxo luminoso emitido por ela (lúmen). Então temos como referencial para uma iluminação fraca 30 lm/l, média 60 lm/l e alta 90 lm/l.

Outra coisa a ser considerada é a temperatura de cor (Kelvin). As lâmpadas mais utilizadas em aquarismo possuem uma temperatura de cor entre 6000 e 6500 K, de coloração branca e mais próxima à luz natural.

Alguns conceitos.

Watt (W). Energia elétrica por unidade de tempo consumida por uma lâmpada.

Lúmen (lm). Quantidade de luz emitida por uma lâmpada (intensidade de luz).

Eficiência luminosa. Relação lm/W de uma lâmpada. Quanto maior a quantidade de lúmens por Watt, melhor a eficiência luminosa em relação a seu consumo de energia.

Kelvin (K). É uma medida referente à temperatura de cor de uma lâmpada e não relacionada à percepção física de quente/frio, mas sim à percepção visual da luz emitida. Temperaturas de cor mais baixas são as chamadas branco quente (tons amarelados) enquanto que as mais altas são conhecidas como branco frio (tons que tendem ao azulado).

Outras coisas

Substrato

Substrato é o material colocado sobre o fundo do aquário e que possui as funções de base para fixação das raízes das plantas, nutrição destas plantas e estética do aquário. Dividem-se em dois grupos: inertes e férteis.

Os substratos inertes são aqueles que cumprem a função de base para fixação das raízes e papel estético, mas não contém em sua composição nenhum nutriente para as plantas.  São exemplos o areão de rio, basalto, areia de filtro de piscina, areia de construção, entre outros. Antes de utilizar qualquer um deles no aquário recomenda-se lavar em água corrente até que todo o pó/sujeira seja retirado. No caso da areia de construção recomenda-se também ferver antes do uso.

Substrato de cascalho, bastante utilizado em aquário

Grande parte dos substratos inertes é neutra, ou seja, não altera o pH da água. Fique atento aos substratos de origem calcária como halimeda, aragonita e dolomita, pois estes contribuem para o aumento do pH tornando a água alcalina. São mais utilizados em aquários marinhos e de ciclídeos africanos, onde um pH elevado é necessário para o bem estar dos animais.

Já os substratos férteis cumprem a função de nutrir as plantas via sistema radicular e podem ou não ficar em contato com a coluna d’água (esta informação constará na embalagem do produto). Aqueles que não podem ficar em contato direto com a coluna d’água – pois liberariam muito nutrientes, contribuindo para o surgimento de algas – deverão ser cobertos por uma camada de substrato inerte de no mínimo 4 cm, permanecendo assim isolados.

Uma última observação: considere os hábitos dos peixes que pretende manter com relação à escolha do substrato.  Alguns se alimentam junto ao substrato, outros se enterram nele, uma escolha inadequada pode significar problemas como machucados, esfoladuras e até perda de barbilhões para estes animais.

Nota. Evite as famosas “pedrinhas coloridas”. A substância usada para tingir este material costuma diluir na água, sendo nociva em algum grau para os peixes. Previna-se de problemas desnecessários.

Testes e afins

Testes são fundamentais. São eles que nos informam as condições da água e, portanto, sua qualidade. Há vários testes de diversas marcas, mas os que jamais devem faltar são os de pH (potencial hidrogeniônico), amônia e nitrito, parâmetros que devem ser conferidos uma vez na semana. Se puder investir mais um pouco, os testes de KH (dureza de carbonatos) e GH (dureza geral) são de grande valia.

Além destes cinco, que são considerados básicos, há diversos outros que são mais utilizados em aquários plantados de alta manutenção como os de nitrato, ferro, fosfato, cloro, oxigênio dissolvido, silicato, entre outros.

Mas preciso mesmo ficar testando a água? À medida que nosso conhecimento aumenta e temos um tempo maior de convivência com o aquário, não é raro que um dia a gente passe por ele, pare, olhe e pense assim: tem alguma coisa errada aí. Mas é impossível pensar: nossa! O pH caiu para 6,0, tem 2,5 ppm de amônia e 1,0 ppm de nitrito! Isto, só os testes nos dizem.

Condicionador de água

Também essencial, o condicionador trata a água da torneira tornando-a adequada aos peixes. Isto é feito eliminando cloro, cloramina (caso usada para tratamento da água da rede de abastecimento) e quelando metais pesados tornando-os indisponíveis para absorção pelos peixes.

Fertilizantes

As plantas retiram da água ou do substrato (fértil, neste caso) os elementos que necessitam para sua manutenção, crescimento e reprodução e fazem isto tanto através das folhas quanto das raízes. Por isso, mais cedo ou mais tarde, visando seu bom desenvolvimento, investir em fertilizantes líquidos ou em pastilhas (que são enterradas no substrato) se torna necessário.

Aquários densamente plantados ou com plantas exigentes demandam uma fertilização mais robusta do que aquários com poucas plantas ou plantas de baixos requerimentos.

Acessórios para manutenção

Vão desde redes, pedras porosas, bolsas para mídias, sifões para limpeza do substrato, termômetros, limpadores magnéticos para os vidros, diferentes pinças para plantio e tesouras de poda, raspadores de algas, até difusores de CO², entre outros produtos. A função básica destes diversos itens é a de facilitar a vida do aquarista principalmente no que se refere ao serviço de manutenção do aquário.

Ornamentos

Rochas e troncos naturais são os itens mais utilizados. Há também as plantas artificiais e uma série de ornamentos confeccionados em resina e próprios para uso em aquários.

Mais alguma coisa?

Produtos disponíveis no mercado é o que não falta! Incentivadores de biologia, redutores de dejetos orgânicos, tamponadores, corretivos de GH, elementos traço adequados para determinados peixes, clarificantes de água, anti-algas, são só alguns exemplos do que há para ser vendido.  Antes de sair comprando, verifique a real necessidade do produto para seu aquário.

O mesmo ocorre com relação a equipamentos. Há vários que são usados em situações mais específicas ou eventuais e que facilitam bastante a vida do aquarista. Entre eles podemos citar resfriadores (chillers), ventiladores, dosadoras de fertilizantes, bombas de circulação, temporizadores, compressores de ar,  alimentadores automáticos, filtro UV, entre outros. Antes de comprar, pondere se há real necessidade dele em seu aquário.

Os peixes

Um belo cardume de discos

Contamos hoje com uma grande variedade e disponibilidade de peixes ornamentais. Entramos na loja, começamos a olhar e a vontade que dá é comprar de tudo um pouco e colocar no aquário. Muita calma nesta hora. Para seu próprio benefício, controle-se. Quando o assunto é peixe, a regra de ouro é conheça o que está comprando antes de comprar. Isto nos salva de frustrações e problemas desnecessários, além da possibilidade de morte dos animais.

Compor a fauna pode se transformar em um interessante quebra-cabeça. É comum escolher os peixes que compartilharão o aquário levando em conta apenas pH e temperatura,  mas para ter sucesso torna-se importante considerar vários outros pontos além destes.

Prestar atenção em que?

Parâmetros físico-químicos da água: Todos os peixes vivem bem dentro de certos intervalos de temperatura, pH e dureza de água (intervalo de conforto) e você deve oferecer isto em seu aquário. Ao longo do tempo, manter peixes fora destes intervalos de conforto tem como consequências uma menor expectativa de vida, redução nas taxas de crescimento e fecundidade e queda da imunidade.

Tamanho adulto: Sempre pense nisto antes de adquirir um peixe: qual o tamanho que ele atinge? Os peixes que encontramos nas lojas são habitualmente exemplares jovens, distantes ainda da maturidade. Um oscar (Astronotus ocellatus), por exemplo, é facilmente encontrado à venda com cinco ou seis centímetros, sendo que adulto e em condições que permitam um crescimento saudável atinge cerca de 30 cm.  Nada adequado para um aquário de 30 ou 50 litros. Também evite manter juntos peixes com grande diferença de tamanho. Uma das máximas com relação a eles é: se cabe na boca, pode ser comida.

Sociabilidade: A maioria dos peixes ornamentais é gregária, vive bem em grupo. O grupo (em aquários fica complicado falar em cardume, que se compõe de centenas de peixes) proporciona a sensação de proteção para os indivíduos, além de facilitar a escolha de parceiros para reprodução. Algumas espécies viverão bem quando mantidas em casais, trios (um macho e duas fêmeas), haréns (um macho e várias fêmeas) ou mesmo solitários (exemplar único). Para peixes gregários, a recomendação usual é manter um grupo com no mínimo cinco indivíduos. Havendo espaço, um grupo maior é sempre bem-vindo.

Comportamento: Verifique se o peixe escolhido é pacífico, agressivo ou territorialista, sendo que a agressividade pode ser intra-espécie (apenas com indivíduos da mesma espécie) ou com qualquer outro peixe existente no aquário. Em época reprodutiva há peixes que se tornam bastantes agressivos para proteger a postura e a prole.

Área de natação: Por onde nadam seus peixes? Junto ao fundo, meia água, superfície ou ocupam todos os espaços?  Escolher peixes que prefiram áreas específicas de natação é uma forma de ocupar todos os níveis de água sem, contudo, passar a impressão de um aquário superpopulado ou confuso.

Ambiente: Pesquise sobre a necessidade de manter locais como tocas ou áreas com maior densidade de plantas. Para alguns peixes é essencial que existam áreas abrigadas e refúgios de modo que não se sintam desprotegidos estando expostos durante todo o tempo. Luz, principalmente quando mais forte, também costuma ser desagradável aos peixes. Sempre que possível crie áreas mais sombreadas para eles. O uso de plantas flutuantes é uma boa opção para isto.

Alimentação: Invista sempre em rações de boa qualidade e nunca alimente em excesso. Rações de boa procedência são elaboradas com matérias primas de qualidade e contém vitaminas e minerais essenciais para a saúde do peixe. Outro aspecto importante é que a digestibilidade é maior, o que implica em um volume menor de fezes para ser degradado no aquário. Procure variar rações, inclusive marcas, permitindo que os peixes tenham acesso a diferentes composições e ingredientes. As rações devem ser a base da alimentação e podem ser complementadas com alimentos alternativos de origem animal (vivos, congelados ou liofilizados) e vegetal (crus, cozidos ou escaldados). Estude os hábitos alimentares de seus peixes para saber quais alimentos alternativos são os mais adequados para incluir no “cardápio”.

A frequência alimentar habitual é de duas a três vezes ao dia, sem exagero. Sobras de ração servem apenas para se degradar no aquário prejudicando a qualidade da água.

Ciclagem. O que é isto?

Ciclagem é o período de tempo necessário para que as bactérias nitrificantes povoem as mídias biológicas tornando o aquário próprio para a introdução da fauna. Este período de tempo pode variar entre duas a seis semanas, sendo que o habitual é que esta fase se encerre em quatro semanas.

Há diferentes maneiras de “fazer a ciclagem”, entenda isto como uma escolha. Faze-la da maneira A não significa necessariamente que a maneira B, C ou D sejam erradas, são apenas diferentes. O diferencial entre escolher uma ou outra está no tempo em que este processo se encerra, produtos utilizados, custo financeiro e robustez das colônias de bactérias formadas. Sem entrar em minúcias, as maneiras mais comuns de ciclar um aquário são as seguintes:

– montar o aquário e deixa-lo funcionando sem peixes por um período de quatro semanas sem adição de nenhum produto;

– montar o aquário e adicionar amoníaco durante o tempo de ciclagem;

– montar o aquário e adicionar produtos conhecidos como incentivadores ou aceleradores de biologia.

Aquário comunitário plantado

O que acontece durante a ciclagem? Ciclo do nitrogênio.

Embora não vejamos, nossos aquários são habitados por outros seres vivos além dos peixes. As bactérias – e aqui falamos principalmente das nitrificantes – são importantíssimas para a manutenção da qualidade da água e consumo de compostos tóxicos aos peixes, basicamente amônia e nitrito.

Vamos ver isto de uma maneira bastante simples. Você montou um aquário. Substrato, ornamentos, plantas, água, instalou os equipamentos, ligou tudo na tomada e assim inicia-se o período de ciclagem.

O ponto de partida são as chamadas bactérias decompositoras, aquelas que decompõem material orgânico morto gerando com isto um subproduto, a amônia, que é altamente tóxica para peixes. Esta amônia acumula-se lentamente no aquário até que as colônias de bactérias nitrificantes se estabeleçam em quantidade suficiente para consumir toda a amônia produzida.

Quando isto acontece a amônia passa a não ser mais detectada na água (o teste indica zero) e uma nova substância começa a se acumular: o nitrito. Menos tóxico que a amônia mas também bastante prejudicial aos peixes, o nitrito será oxidado por outros gêneros de bactérias nitrificantes e deste processo resulta um resíduo final,  o nitrato, que é cumulativo no aquário. Da mesma forma que anteriormente, o teste indicará nitrito igual a zero quando as bactérias nitrificantes se reproduzirem em quantidade necessária para consumir todo o nitrito produzido.

Ao final deste processo resta o nitrato, que é tóxico aos peixes quando em grande quantidade. Por isso, ao final da ciclagem, fazemos uma troca parcial de água (tpa) de 40~50% para diminuir seu nível na água. Daqui para diante o aquário está seguro para a colocação da fauna (prefira colocar poucos peixes por vez a intervalos de alguns dias para que as colônias de bactérias nitrificantes tenham tempo de se adaptarem ao novo patamar de carga orgânica).

Este ciclo de [matéria orgânica morta -> bactérias decompositoras -> amônia -> bactérias nitrificantes -> nitrito ->  outras bactérias nitrificantes -> nitrato] é contínuo, sendo iniciado nas primeiras semanas  de montagem do aquário e se estabelecendo definitivamente depois da inserção da fauna. Em aquários estáveis e equilibrados, com uma quantidade adequada de peixes, filtro dimensionado, alimentação sem excesso e manutenção rotineira, os testes indicarão amônia e nitrito em zero, sinal de água salubre, e pH estável. O nitrato, que é cumulativo, será também mantido em limites seguros através das trocas parciais de água.

E como saber se de fato a ciclagem está acontecendo? Através de testes. Pode fazê-los a cada três ou cinco dias, já terá uma boa ideia da fase em que a ciclagem está. De maneira geral, em duas semanas já haverá ocorrido o pico de amônia e o teste indicará amônia = zero, e nas próximas duas semanas ocorrerá o mesmo com relação ao nitrito.

Nota 1. Durante a ciclagem o pH tende a se manter alcalino, geralmente próximo a 7,5. É assim mesmo, não se preocupe com isto neste momento. Encerrada a ciclagem, com uma troca de água e colocação dos primeiros habitantes, o pH irá baixar gradualmente.

Nota 2. Alguns aquaristas se preocupam ao fazer trocas de água com medo de perderem a “biologia” do aquário. Bactérias nitrificantes se instalam majoritariamente nas mídias biológicas que estão dentro do filtro. Sendo assim, não há perdas.

Manutenção

Sifonando o aquário, método mais comum de manutenção no aquário

É simplesmente a série de rotinas necessárias com a finalidade de manter o aquário com as condições adequadas para sustentação da saúde dos peixes e plantas existentes nele. Tais rotinas basicamente incluem troca de água com sifonagem do substrato, poda de plantas e retirada de folhas mortas, limpeza de vidros, troca de mídia de filtragem física (perlon) ou sua limpeza (caso use espuma), necessidade de troca de carvão ativado ou renovação da mídia filtrante sintética. Com relação às mídias biológicas, havendo muitos detritos, as mesmas podem ser enxaguadas na água retirada na tpa.

O comum é que este procedimento seja feito semanalmente e que a troca parcial de água (tpa) seja de 20~30% do volume de água do aquário. Antes de adicionada ao aquário a água reposta precisa ser tratada com um condicionador, devendo ter pH e temperatura o mais próximos possível da água do aquário, evitando a possibilidade de choque de pH e/ou térmico.

Antes de iniciar a manutenção sempre desligue os equipamentos. Faça também os testes básicos conferindo pH e a eventual existência de amônia e nitrito.

Nota

A rotina de manutenção pode variar de aquário para aquário tanto com relação à periodicidade como volume de água trocado e manutenção do filtro. Um aquário com muitas plantas e poucos peixes tem exigências diferentes de outro que comporta peixes jumbos, por exemplo.

E sempre faça os testes básicos. Água cristalina não é sinônimo de inexistência de amônia e nitrito.

Sobre Edson Rechi 848 Artigos
Aquarista em duas fases distintas, a primeira quando criança e tentava manter peixes ornamentais sem muito sucesso. Após um longo período sem aquários, voltou no aquarismo em 2004, desde então já manteve diversos tipos de aquários como plantado, peixes jumbo, ciclídeos africanos, água salobra, amazônico comunitário e marinho. Atualmente curte e mantém peixes primitivos e ciclídeos neotropicais, suas grandes paixões.

13 Comentário

  1. Cara… Não tem nem como agradecer por pessoas que compartilham conhecimento assim. Principalmente pra quem precisa de apoio e não encontra fácil. Muito obrigado! Montarei o meu plantado de 100 l com muitas dicas colhidas por aqui. Primeiramente low tech, pra ganhar experiência, e depois, se eu obtiver sucesso, um high tech.

     
  2. Muito boa a matéria, parabéns, realmente quem se dispõem a compartilhar conhecimento assim deve ser exaltado. Li sua breve biografia e me identifiquei muito. comecei no aquarismo quando criança com um aquário de 12 lts que nunca deu certo por falta de conhecimento, me desestimulei mas nunca deixei de ter paixao, hoje com 30 anos e por causa da milha filha voltei ao hobby, montei um de 30 lts pra ela e ja estou montando um de 200 pra mim!!!

     
  3. Estou com um aquário de 32 litros com 1 papilocromis, uma colisa, 5 paulistinhas e 5 corydoras. Tenho um aquário de 11 litros onde ficava um betta. Nesse aquário de 11 litros, daria para colocar outro peixe sem ser betta? Como 1 casal ou duas fêmeas de guppys? Ou outro peixe, mesmo podendo ter casal.

     

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