Cientistas podem ter descoberto como enguia muda de sexo

 

Um novo estudo publicado em janeiro na revista Water Biology and Security revelou o mecanismo por trás da impressionante capacidade da enguia-dos-pântanos-asiática (Monopterus albus) de mudar de sexo ao longo da vida.

Enguia-dos-pântanos – Reprodução/BioDiversity4All

Essa espécie, que vive em água doce, é o único peixe conhecido com hermafroditismo protogínico — ou seja, todos os indivíduos nascem fêmeas, mas com o tempo podem se transformar em machos.

Pesquisas anteriores já haviam mostrado que essa reversão sexual estava ligada a alterações hormonais e à expressão de genes envolvidos na determinação do sexo. No entanto, a origem desses gatilhos moleculares permanecia um mistério. Agora, cientistas descobriram que a temperatura do ambiente é o principal fator externo por trás dessa transformação.

Mostramos que a temperatura quente induz a expressão de genes de determinação do sexo masculino em tecidos ovarianos, e que essa ativação depende da Trpv4, uma proteína de canal iônico que controla o fluxo de cálcio nas células”, explica o pesquisador Yuhua Sun, um dos autores do estudo.

A Trpv4 faz parte de uma família de proteínas sensíveis a estímulos físicos e químicos, como temperatura, pressão e pH. Nesse caso, ela atua como uma espécie de sensor térmico: quando a temperatura aumenta, permite a entrada de cálcio nas células, desencadeando a ativação de genes masculinos e a posterior transformação sexual.

Além disso, os pesquisadores identificaram um papel importante das alterações epigenéticas no DNA da enguia — modificações químicas que influenciam o comportamento dos genes sem alterar sua sequência. O padrão de metilação do DNA, por exemplo, é altamente influenciado pelo ambiente e pode ativar ou silenciar genes específicos, incluindo os ligados à determinação do sexo.

Enguia-dos-pântanos-asiática. Foto: Wikimedia Commons/ Creative Commons/ Reprodução
Apenas o começo

Segundo Sun, ainda há muito a ser descoberto. “A explicação faz sentido, mas ainda carece de evidências experimentais diretas. Não sabemos exatamente qual é o fator ambiental mais determinante e como os sinais térmicos são convertidos em mensagens biológicas no nível molecular”, afirma.

Segundo a ‘Revista Galileu’, apesar das incertezas, a descoberta já aponta caminhos promissores para a aquicultura. Como a enguia-dos-pântanos é uma espécie de importância econômica, especialmente na Ásia, o controle do sexo por meio da manipulação de temperatura pode se tornar uma ferramenta prática, eficiente e ecologicamente segura para a reprodução em cativeiro.

Publicado em Maio/2025

Sobre Edson Rechi 886 Artigos
Aquarista em duas fases distintas, a primeira quando criança e tentava manter peixes ornamentais sem muito sucesso. Após um longo período sem aquários voltou no aquarismo em 2004. Desde então já manteve diversos tipos de aquários como plantado, peixes jumbo, ciclídeos africanos, água salobra e amazônico comunitário. Atualmente curte ciclídeos e tetras neotropicais, além de peixes primitivos.

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